O BISCOITO MOLHADO
Edição 5341 FM
Data: 04 de dezembro de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXV
O VELHO PINHEIRO
(Boas Festas e Feliz Ano Novo)
Eis uma breve história que a ninguém
deve interessar, senão a mim mesmo, pelas lembranças. Coisa simples, nada
emocionante, nada a se perder, caso não seja contada. É sobre um já envelhecido
pinheiro de mentirinha, que todo fim de ano é armado com carinho e o devido
cuidado, para se transformar em imponente Árvore de Natal, tudo feito com um
pouco de desvelo, como se a operação fosse a primeira, de há 40 anos.
História banal deste
nosso pinheiro quarentão, que guarda muitos dos nossos sonhos, jamais tornados
realidade, desfeitos pelas nuvens do tempo, está vivo, diante dos nossos
cansados olhos, resistindo como árvore legítima açoitada por ventos
tempestuosos. Está rijo e forte, teimosamente, como somos nós, que também
teimosamente resistimos e fazemos dele, todo fim de ano,
parte da nossa festa, alimentando nossos desejos. Não mais os impetuosos sonhados
em outros tempos, que ficaram para trás, deram lugar a outros, menos inalcançáveis,
mesmo assim, distantes de serem transformados em realidade.
Está ali, a um canto, a
nossa envelhecida árvore-símbolo, contando, em silêncio, a sua própria história,
que é a nossa, de nossas crianças, hoje transformadas em adultos, donos dos
seus próprios destinos, sonhando seus próprios sonhos, alimentando seus próprios
desejos, ainda irrealizados. Vão chegando, olham, dizem desinteressados: “Ainda
está aí?”
Para nós está, como
sempre esteve, neste natal e não sei em quantos outros mais. Enquanto pudermos,
estaremos resistindo, como o velho pinheiro de mentirinha, mesmo sem o brilho
original, e já um tanto empoeirado. As bolas coloridas são as mesmas, quase
todas, as que se quebraram foram substituídas por outras, de isopor, inquebráveis,
modernas mas sem brilho natalino; a neve dourada já perdeu alguns de seus
flocos, as lâmpadas coloridas ainda piscam, algumas queimaram, foram substituídas,
outras vão apagando e lá ficam, sem luz, entre o pisca-pisca das que
teimosamente resistem ao tempo.
Como ele, suportamos as
mentiras da vida; como ele, continuamos atravessando o tempo. Diante dele, em
silêncio, rememoramos o passado, pois um pouco de nossas vidas está ali, entre
fitas de papel e bolas coloridas, neve dourada, pequenos anjos de metal,
estrelas reluzentes e lâmpadas piscando.
Até quando?
Saber é difícil,
queremos que seja para sempre ou até que a serra elétrica do destino faça-o em
pedaços, transforme seus enfeites em nada, tudo se dilua como se diluíram
nossos sonhos, e amanheça sem vida
numa lata de lixo.
Por enquanto, aguardamos
o passar do tempo, nossa velha e estimada
árvore de natal continua ali,
no canto da sala, brilhando de luzes, alimentando sonhos,
fazendo de conta que “tudo vale a pena, se a alma não é
pequena”, como disse o poeta.
ANO
NOVO, VIDA NOVA. Eis o mote de
sempre: Ano novo, Vida Nova. Não nos cansamos de ter esperanças, exageramos nas
preces, nos cumprimentos, esbanjamos votos de felicidades, entre parentes, amigos e conhecidos. E isso não basta,
sabemos, mas não nos custa desejar... e esperar. Ao mesmo tempo, fazemos um
pouco de reflexão, examinamo-nos por dentro, enquanto por fora, vemos um passado
de saldo negativo - não podemos esquecer a tragédia americana no Iraque, os Talibãs, Cazaquistão, Paquistão,
terrorismo avassalador, atitudes desumanas, ceifando
vidas; Trump ameaçando destruir a Coreia Norte, uma insanidade. Na África, a
fome, revoltas, refugiados aos milhares, as desigualdades sociais não encontram solução, persiste
o desenfreado desejo de consumismo, o mundo globalizado não se empenha em agir,
e a pergunta angustiante é: até quando? Por aqui, a falta de vergonha se
institucionalizou, a Operação Lava-Jato continua revelando os
canalhas da propina, e sendo veladamente ameaçada de desaparecer. O
individualismo, o desrespeito, a falta de ética e se pergunta: até quando? Para
uns, persiste o choque entre materialismo e a fé religiosa, para outros o espírito
humanista liberta e dignifica. A
ciência intervém, contribuindo para o bem das pessoas, a solidariedade é parte
de uma convicção moral, uma prova de que nem tudo está perdido. Neste começo de
ano que se avizinha, também nós, em poucas palavras, manifestamos nossos
desejos de paz e de que não se repitam os desmandos, as mentiras, os atos que
tanto nos envergonham, como cidadãos. Pois que este seja um ano novo em todos
os sentidos. Para todos. Feliz 2018!
Fernando,
ResponderExcluirA história do seu pinheiro é igual a história do meu pinheiro. Comprado com dificuldade ia a cada ano acrescentando algo. Grande felicidade quando meu filho, já mais crescido pegou uma lata de Neston, que ele adorava comer com chocolate e leite, comprou gesso ou cimento branco, não sei, e a fixou para que não balançasse e soltassem as fitinhas xadrez que junto com as bolas e demais ornamentos a enfeitavam. A glória, acredite. Lata pintada, enfeitada, não precisava mais desmontá-la. Dias dos reis era só retirar as bolas quebráveis, apertar os galhos, colocar dentro de um saco de lixo, e escondê-la no alto de um armário duplex.
Em 2015, já viúva, não consegui montá-la. Em 2016, junto a liquidificador, panelas de pressão e outros objetos foi levada ao lixo.
Aos não portadores de sonhos era o que ela era. Lixo!
Este ano não fiz nada ainda, penso e repenso...
Nesta sociedade atual, de consumistas ferozes, penso que o que vale é o preço, fibra ótica substituindo as antigas luzes, papel laminado substituindo o algodão.
Muito cristal e coisa e tal.
Um Feliz Natal a Todos.
Que em 2018 o importante seja o sentimento que atribuímos às coisas e não o preço delas.
Para que continuemos a sonhar:
https://www.youtube.com/watch?v=9kLTOdx82gs&feature=youtu.be.
Milfont como sempre batendo um bolão !!!
ResponderExcluirPARABÉNS !
Bom dia,
ResponderExcluirTomada pela emoção do sentimento universal que a Arte transmite ontem esqueci de dizer duas palavrinhas tão simples. Hoje aumento mais uma: Desculpe, Obrigada e Parabéns!!
Parabéns extensivos ao Biscoito Molhado, a seus escritores pelos deliciosos momentos aqui passados em 2017. Às suas famílias e a todos um Feliz Natal, um maravilhoso 2018 e que a esperança nunca se afaste de nossos corações.
O editor e os inúmeros redatores do seu O BISCOITO MOLHADO agradecem os votos de sua principal leitora e eficaz comentarista. E retribuem para que ano que vem a gente continue sempre lendo e opinando. Beijo do
ResponderExcluirEd
Muito obrigada pela acolhida e gentileza de todos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOBRIGADO, CARO SÉRGIO. FELIZ NATAL, PRÓSPERO ANO NOVO PARA VOCÊ E OS DEMAIS ILUSTRES PADEIROS DESTE AGRADÁVEL ALIMENTO ESPIRITUAL, SEM DÚVIDAS UM AGRADÁVEL MOMENTO DESTINADO AOS LEITORES, QUE SE SENTEM BEM ALIMENTADOS. FM
ResponderExcluirFora de Foco: Muito interessante o programa da Ana Maria Braga, hoje. Mostra um sebo de São Paulo que recebe doações e no meio dos livros antigos recebidos muitos documentos como cartas de amor, certidão de nascimento, cartões postais, entradas de teatro, muito material que foi usado pelos donos como marcador de páginas.
ResponderExcluirAo entregar os livros os parentes entregava uma parte do passado dos seus pais, avós, tios. Histórias lindas. O programa, neste momento está em uma vila de casas no Catete - RJ a procura da família do Sr. Plínio que nasceu em 1924. Com a certidão de nascimento original dele. O dono da livraria pretende fazer um museu com os achados. Muito interessante. O programa volta a ser exibido no Viva, creio que às 18:30h. Vale a pena assistir.
Corrigindo: os parentes entregavam ...
ResponderExcluirMuito tocante a crônica. Sofrida e esperançosa com os passos que devemos ainda dar. Amei! Nossos colegas da UERJ também amaram, saiba.
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