O BISCOITO MOLHADO
Edição 5295 SX
Data: 07 de junho de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
MORREU CEDO. UMA
LÁSTIMA
Pouca gente ouviu falar de Jacob Gershovitz, nascido no
Brooklin, em Nova Iorque, no dia 26 de setembro de 1898, segundo filho de Moris
e Rose Gershovitz, judeus russos que imigraram para os Estados Unidos, vindo a
se conhecer e casar na América.
Por volta de 1910, um piano foi providenciado para Ira
Gershovitz, o filho mais velho do casal. Ele deveria ser o músico da família.
Acontece que Jacob, o filho dois anos mais jovem, imediatamente se apoderou do
instrumento.
O fato, singelo em sua essência, mudou a história da música
nos Estados Unidos. Jacob Gershovitz alterou seu nome para George Gershwin e a
partir de “Swanee”, canção interpretada por Al Jolson, passou a trilhar uma
carreira de extraordinário sucesso.
Privado de seu piano, Ira Gershwin, o irmão
mais velho, revelou-se um letrista de enorme talento.
Não sendo rico, Moris Gershovitz não pôde proporcionar ao
filho uma formação musical sofisticada. George Gershwin era, essencialmente, um
pianista extraordinário, envolvido com música em horário integral. Seu primeiro
emprego ele conseguiu com o editor musical Jerome Remick. Ele era um “song
plugger”. Ou “song demonstrator”.
Muita gente tocava piano e a venda de
partituras musicais mobilizava lojas de música e de departamento. Os clientes
tinham pianistas à sua disposição para poderem avaliar com precisão o que
estavam comprando.
Gershwin tinha dezoito anos de idade quando publicou sua
primeira canção. Não se pode dizer que foi um sucesso. Sua alternativa para
ganhar algum dinheiro foi percorrer o país como pianista de uma companhia de
vaudeville.
Em 1919, ele apresentou “La, La, Lucille”, seu primeiro show
para a Broadway. O resultado não foi animador. O musical foi encenado cem
vezes, marca que, mesmo para a época, não pode ser considerada relevante.
Mas foi nesse mesmo ano de 1919 que aconteceu um fato
marcante na vida do compositor. Numa festa, o famoso cantor Al Jolson ouviu a
canção “Swanee”, interpretada ao piano pelo próprio George Gershwin. A
composição, apresentada em 1917, não havia alcançado qualquer repercussão.
Jolson decidiu incluí-la em “Simbad”, um show itinerante que ele apresentava em
várias cidades dos Estados Unidos. A música fez um sucesso tremendo, vendendo
mais de dois milhões de cópias no período de um ano. Foi “Swanee” que abriu
para George Gershwin o caminho da fama e da fortuna.
Diante desse êxito estrondoso, o compositor começou a
cogitar de vários projetos ambiciosos. Mas teve que adiar muitos deles. Durante
cinco anos esteve preso a um contrato que assinou com George White, produtor de
uma série de shows conhecidos como “Scandals”, que faziam enorme sucesso. São desse
período algumas de suas mais extraordinárias canções.
Esse contrato chegava ao fim, em 1924. Ainda como parte
dessas apresentações, Gershwin compôs uma pequena opereta intitulada “Blue
Monday”. Paul Whiteman, um dos grandes chefes de orquestra da época, ficou
fascinado com esse trabalho e encomendou ao compositor o que ele denominou “uma
peça de jazz sinfônico”, para ser apresentada no Aeolian Hall juntamente com
outros trabalhos inéditos dos maiores compositores da época.
Gershwin esqueceu-se completamente desse compromisso. Um
dia, caminhando na Broadway, deparou-se com um cartaz que anunciava a première
de uma nova e excitante composição de George Gershwin. Assustadíssimo, em três
semanas produziu a música que surpreenderia o mundo e mudaria seu “status” de
compositor. Essa música era “Rhapsody in Blue”. O concerto, denominado “An
Experiment in Modern Music”, aconteceu no dia 12 de fevereiro de 1924. Gershwin
estava ao piano. A brilhante orquestração da peça foi produzida por Ferde
Grofé, pianista e arranjador de Paul Whiteman. Muitos anos mais tarde, Grofé
admitiu que, à época, Gershwin não tinha suficiente conhecimento de
orquestração para se desincumbir
daquela tarefa.
Liberado de seu contrato com George
White, o compositor e seu irmão Ira experimentaram entre 1924 e 1929 um período
de intensa e brilhante produção para a Broadway. George pôde, finalmente,
abraçar seus projetos mais ambiciosos. Estes resultaram no Concerto em Fá para
piano, em 1925; os três Prelúdios, em 1926; suíte orquestral “Um Americano em
Paris”, em 1928; e, finalmente, no seu acalantado projeto de produzir uma
ópera, que o compositor só materializou em 1935, com “Porgy and Bess”.
“Porgy and Bess” é um caso à parte na trajetória de George
Gershwin. Ele leu o texto de Du Bose Heyward em 1926. Imediatamente escreveu ao
autor, sugerindo que trabalhassem juntos na produção de uma ópera baseada na
novela. Heyward se apaixonou pelo projeto, mas a agenda super atribulada de
George Gershwin fêz com que ele somente pudesse abraçar essa tarefa em 1934.
Muita coisa aconteceu nesse intervalo de tempo. Heyward e sua mulher, Dorothy,
chegaram a apresentar em 1927 uma dramatização daquele texto, incorporando à
ação a apresentação de alguns “spirituals”. Essa produção alcançou 367
encenações no Guild Theater e chamou a atenção de muita gente para a qualidade
do trabalho de Du Bose Heyward. O consagrado cantor Al Jolson foi um dos que se
apresentou como interessado em transformá-lo em um grande musical. Finalmente,
em 1934, depois de passarem anos trocando correspondências, George, seu irmão
Ira e Du Bose Heyward se encontraram em Charleston, na Carolina do Sul, para
dar início ao trabalho.
Em julho de 1935 a tarefa estava concluída. George
Gershwin havia produzido 700 páginas de música. Segundo David Ewen, biógrafo do
compositor, Gershwin nunca se cansou de admirar aquela que era sua obra
favorita e, acima de tudo, sua criação mais ambiciosa. Segundo Ewen, “Gershwin
amava cada compasso que escrevera, absolutamente convicto de que havia
produzido uma obra de arte”. O compositor estava absolutamente certo.
Infelizmente não viveria tempo suficiente para ver sua obra consagrada pelo
público.
No começo de 1937, Gershwin começou a reclamar de fortes
dores de cabeça. No dia 11 de fevereiro ele tocou o seu Concerto em Fá com a
Orquestra Sinfônica de São Francisco, sob a regência de Pierre Monteux.
Normalmente um pianista soberbo, ele mostrou problemas de coordenação e lapsos
de memória durante a execução. Constatou-se que tinha um tumor no cérebro. Uma
grande mobilização aconteceu para que ele fosse urgentemente operado por um
consagrado cirurgião. A operação aconteceu nas primeiras horas do dia 11 de
julho de 1937, mas resultou infrutífera. Ele tinha 38 anos de idade.
Seus amigos e admiradores ficaram consternados. John O´Hara,
o escritor, disse: “George Gershwin morreu no dia 11 de julho de 1937. Mas eu
não sou obrigado a acreditar, se eu não quiser acreditar nisso”.
Parabéns por ter lembrado antes do aniversário de 80 anos de morte.
ResponderExcluirEspero que os nossos "fanáticos explícitos" por jazz, os de da nossa mídia, também lembrem. Belíssimo texto.
Porgy and Bess, maravilhoso. Miles Davis tb tocou de forma inesquecível
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