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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

2230 - cerol de tantalita


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4030                               Data: 17 de setembro de 2012
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O  SABADOIDO DOS 1001 E DOS 10 MAIORES DE TODOS OS TEMPOS
PARTE II

-Luca telefonou para avisar que não vem, porque tem de levar a filha de carro a um compromisso, depois a neta. Ele está, enfim, hoje, com a função de motorista da família. – informou-me a Gina.
-Sim.
-A preocupação dele era com as suas sacolas de compra, que você tem que carregar até em casa a pé. Eu lhe disse que você não comprou nada.
-Na verdade, Gina, só quando estava na metade do caminho para cá, percebi que esquecera o dinheiro em casa. Mas eu já me encontrava naquilo que os americanos chamam de “point of no returnn”.
-O que é isso? – estranhou.
-Numa trajetória, chega-se a um ponto em que a volta à partida é fisicamente impossível, isso é o “point of no returnn”; aconteceu com o voo da Apolo 13; não dava mais para voltar depois que os problemas espocaram na nave.
-Isso tudo é para dizer que você estava com preguiça de retornar para casa e encher a pochete de dinheiro? – simplificou minha cunhada.
-Isso e mais o fato de ocorrer agora, na Praça Manet, um festival de pipas. São umas vinte pessoas de meia idade empinando pipa. Eu tive de driblar inúmeras linhas com cerol para não ter o pescoço cortado; não iria passar de novo por essa experiência.
-Mas vai ter de passar sem a carona do Luca.
-Sim, mas estarei, então, com mais fôlego para atravessar todas aquelas linhas cruzadas.
E perguntei pelo Claudio.
-Ele foi ao Wal Mart, mas chega logo. - informou-me.
-Se o Vagner não veio até agora, não vem mais.- concluiu.
-O Claudio diria que o cavalo ficará neste sábado sobrecarregado, pois substituirá dois.
Eu trouxe um envelope para a Rosa Grieco e a ausência do Luca atrapalha os meus planos. - pensei sem me manifestar.
Gina se reportou à festa do dia anterior e eu falei da minha ida até ela.
-Para chegar a Usina, eu pretendia sugerir o Túnel Noel Rosa, mas o Lopo (meu irmão mais novo) discordou com o argumento de que os bandidos das proximidades poderiam causar problemas.  Quando pegamos o táxi, pouco depois das seis da tarde, o próprio motorista garantiu que não havia perigo no Túnel e o Lopo se convenceu.
-O taxista foi também pelo Túnel Noel Rosa na minha ida para lá com o Daniel.
Como voltamos os quatro juntos no mesmo táxi, não tocamos no assunto, ou seja, que o Túnel Noel Rosa foi evitado porque já se aproximava da meia-noite, hora em que a bandidagem se assanha.
Pouco depois, reaparecia o Claudio.
-Você leu sobre a tantalita que a Venezuela exporta, clandestinamente, para o Irã?
E, sem pausa, acrescentou, com a notícia ainda fresca na sua mente:
-A mercadoria, na verdade, é contrabandeada do Brasil para a Venezuela.
-Cláudio, eu começava a trabalhar na SUNAMAM, em 1979, quando a tantalita nos causou um problema dos diabos.
-Não é maior do que o que causa agora. - comparou.
Dei início, então, às minhas reminiscências.
-Em 1979, o tráfego marítimo das chamadas cargas nobres eram cartelizados pelas conferências de frete. Assim, o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos se enquadrava na Conferência Interamericana de Fretes - CIAF. Havia alentados volumes com o valor do frete de cada mercadoria comercializada.
-Vocês olhavam essa tarifa e diziam o valor do frete da carga?
-Sim.
- E qual era o frete da tantalita?
-Você foi na ferida, Cláudio.  Os exportadores da tantalita para os Estados Unidos acordaram um frete com a CIAF e a SUNAMAM, que parecia razoável.  Depois, descobriu-se que a tantalita, além de ser usada na produção de ligas metálicas de alta resistência ao calor, bem como à abrasão e à corrosão por substâncias ácidas, também entrava na fabricação de motores de foguete. 
-O valor, então, foi às nuvens? – concluiu.
-Foi, mas o frete das conferências de frete só poderia subir anualmente e no percentual do reajuste geral, que nós, da SUNAMAM, calculávamos. Surgiu, então, a briga: a Conferência Interamericana de Fretes querendo aumentar o frete e o exportador não aceitando.
-Pelo que entendi, majorar o frete, quebrava a regra. – interveio o Claudio.
-A CIAF tinha um argumento de peso: uma carga preciosa  acarretava um seguro elevado, e o seguro é um dos componentes do custo do frete.
-E como isso terminou?
-Após semanas e mais semanas de arranca-rabo, estabeleceu-se um frete ad valorem para a tantalita.  Se eu não me engano, 2,5% sobre o valor FOB por tonelada.
-Além da indústria espacial, a Tantalita também é utilizada em reatores nucleares.
-Pois é, Claudio; proibiram, por isso, a sua exportação para o Irã.  Agora, surgiu a notícia que, clandestinamente, o Hugo Chaves envia tantalita para o Irã e que ela é proveniente dos garimpos de Guajará-Mirim, em Rondônia.
-Ela passa pela Bolívia antes de chegar a Venezuela. - disse o Claudio.
-Pelo que li, apreenderam 2 toneladas e, depois, 18.
-Quanta riqueza nossa se esvai pela fronteira! - indignou-se meu irmão.
Estou de volta. - era o Daniel, que dava por encerrada a sua caminhada.
-Daniel, enquanto eu aguardava a passagem do tempo para ir à festa, assisti a um excelente documentário sobre os acidentes nas corridas de automóvel do passado.
-Você assistiu até o fim, Carlão.
-Tive de desligar a televisão na morte do Jim Clark.
-Ele morreu na Alemanha.
-O Colin Chapman era um gênio da construção de carros, mas colocava em risco a segurança de quem os pilotava. - afirmei.
-Carlão, com ou sem Colin Chapman, morreriam quase todos aqueles pilotos. - declarou.
-O médico que socorreu o Airton Senna, em San Marino, morreu nesta semana.
Mas meu sobrinho sabia da notícia com minúcias que eu desconhecia:
-O Sid Watkins?... Partiu dele a ideia do Hans, a proteção de pescoço e cabeça contra a desaceleração repentina nas colisões, e a célula de sobrevivência, onde ficam os pilotos, que se mantém intacto depois das batidas a mais de 200 quilômetros por hora.
Depois de uma breve pausa, bradou que tomaria banho, pois o suor da caminhada já lhe secara no corpo.
Quanto a mim, pedi para deixar o envelope da Rosa Grieco lá e fui sem nada nas mãos para casa enfrentar as linhas com cerol...





terça-feira, 25 de setembro de 2012

2229 - assovios, vaias e apupos

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4029                                   Data: 16 de setembro de 2012
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O  SABADOIDO DOS 1001 E DOS 10 MAIORES DE TODOS OS TEMPOS

-Chega você, daqui a uma hora o Vagner e o Luca. - disse meu sobrinho enquanto franqueava o portão da casa para mim.
-Você falou no Vagner e me ocorreu um perigo que passei.
-Quem não passou por um perigo, Carlão?... A defesa do Fluminense vive passando por perigo... de gol.
-Foi em 1977.
-Se você lembra até o ano, a coisa é séria.
-Eu trabalhava no Jornal do Brasil, naquele prédio da Avenida Brasil nº 500. Houve um período em que o meu horário de serviço era das 18 às 22 horas.
-Que moleza!
-Rapaz, apesar do horário curto, nunca derramei tanto suor. Eu era estagiário.
-Você correu o perigo de ficar desidratado?
-Não; deixe-me contar. Ao sair de casa, na Rua Chaves Pinheiro, o Vagner, que ia para o Centro, no seu fusquinha, ofereceu-me uma carona.
-E você aceitou, Carlão?
-Na década de 70, o Vagner era o especialista da rua em automobilismo, apesar de os três melhores motoristas, concordando com o Claudio, serem o Luca, o Julinho e o Tonico português.
-Ele bateu com o carro nessa carona?
-Não, Daniel, Vagner me deixou onde eu pedi para parar e, em seguida, seguiu em frente.
-E o perigo, Carlão?
-Fui apresentado ao perigo cinco segundos depois de saltar do carro do Vagner; eu tinha de atravessar a Avenida Brasil no trecho em que fiquei. Os veículos passavam voando.
-Não havia uma passarela por perto?
-Não vi passarela alguma, Daniel. Fiquei, durante dez minutos, hesitante; era hora ou não de passar para o outro lado.
 -Eu o imagino como um daqueles fiscais de linha que tem de atravessar a pista do autódromo no meio da corrida.
-Era pior, Daniel, mas, ou eu tentava ou não sairia mais dali. Decidido, corri de os calcanhares baterem no meu traseiro.
-Como você está aqui, conseguiu alcançar a outra calçada.
-Escapei porque fui aluno de Educação Física do Admildo Chirol.  Nunca mais. - desabafei quando senti que estava vivo.
-Nunca mais pego uma carona com o Vagner. - mudou meu sobrinho minhas palavras com o seu jeito brincalhão.
Esse diálogo, que se iniciara no portão, terminou na cozinha. Lá, estava o Claudio, que acabou de ler o Globo, que se encontrava meio desarrumado sobre a mesa. Ele apontou para a primeira página do Segundo Caderno e se voltou para mim.
-O Luca não vai gostar, um inglês que escreveu as “1001 músicas para ouvir antes de morrer”, não incluiu nenhuma do Chico Buarque.
-Pixinguinha, Ernesto Nazaré, Jacó do Bandolim, certamente estão. - afirmei.
-Carlinhos, o tal inglês só colocou sete canções brasileiras; três do Tom Jobim e três do Jorge Ben, a outra eu nem conheço.
-Carlão, é melhor ler o caderno de esporte. - aconselhou o Daniel.
Meu irmão prosseguiu:
-A gravação de “O Sole Mio”, do Caruso, de 1916, está na relação.
-Entendo, porque o Caruso, com o vozeirão dele, popularizou a indústria dos discos, mas com gravações bem anteriores a 1916 - manifestei-me.
-Há gente aqui elaborando uma versão brasileira das “1001 músicas para ouvir antes de morrer”. - informou.
-Cláudio, será tão polêmica quanto essa versão inglesa. - previ.
Com a ida do meu irmão ao quintal, com o objetivo de alimentar as rolinhas, reportei-me à festa de 1 ano de uma sobrinha-neta, que também contou com a presença do Daniel.
-Muito bom o aniversário, o animador do clube conseguiu colocar os adultos para brincar como crianças.
-Eu tive de dançar música da Xuxa com o filho da Roberta, o Luquinha.
-O animador soube fazer, com muita competência, a transição de brincadeira infantil para adulta. Começou com a adivinhação das músicas que eram tocadas no computador, “Pica-Pau”, “A Pequena Sereia”...
-A música do “Shrek, o Luquinha acertou, porque a Roberta  (sua mãe) soprou para ele. - aparteou o Daniel.
-Depois, o animador passou para a adivinhação de vinhetas e de filmes. Daniel, se tocassem trechos do “Casablanca”, “Lawrence da Arábia”, “Era uma vez no oeste”, “Psicose”, “E o Vento Levou”, todos os filmes de Fellini, eu acertava. Mas tocaram esses filmes de hoje...
 -E aquela vinheta que todo o mundo dizia “Plantão”, mas ninguém completava, até que o pai daquelas menininhas gêmeas decifrou: “Plantão Urgente” da TV Globo.
-Tocassem a vinheta das gotinhas da Esso, cantada pelo tenor Assis Pacheco e eu acertaria de batepronto. - garanti.
-Carlão, eu vou caminhar, antes, porém, deixarei por escrito todos os passos que você deve dar para inserir fotos no Facebook. - reportou-se a um pedido que eu lhe fizera no meio dessa festa.
Logo depois, a Gina aparecia e o Claudio retornava do quintal.
-A Jura se lembrou do animador da festa de ontem de um aniversário de anos atrás em outro clube; falou com ele, que confirmou. A Jura tem uma memória fotográfica. - referiu-se a Gina à irmã.
Depois, perguntou-me como eu estava.
-Apesar de dormir um pouco além da hora, por causa da noite de ontem, caminhei cedo e já tomava o café da manhã no meio do horário político.
-Você escuta o horário político, Carlinhos? Eu perco a fome, se escuto.- disse a Gina.
-Agora que a irmã do Chico Buarque toma a sua melhor decisão como ministra da cultura, tem de dar o cargo para a Marta Suplicy. - criticou o Claudio.
-Claudio, se o Chico Buarque, em vez de cantar no Rio de Janeiro pela candidatura do Freixo, do PSOL, cantasse em São Paulo pela candidatura do Fernando Haddad, do PT, a Ana de Holanda seria mantida no cargo, com toda certeza. - comentei.
 -Como o Lula a tirou do caminho, para colocar o candidato dele, ela recebeu o Ministério da Cultura como compensação. - afirmou o Claudio de acordo com os observadores da cena política nacional.
-É tudo uma podridão. - resumiu minha cunhada.
-Cláudio se reportava, agora, aos dez maiores faroestes de todos os tempos.
-”Era uma vez no oeste” ficou em segundo lugar, “Shane”, em terceiro. (*)
-Como não se lembrasse do primeiro colocado, aventei duas hipóteses, ambas dirigidas pelo mestre John Ford:
-”O homem que matou o facínora”?... “”Rastros de Ódio”?...
-Estão entre os dez maiores, mas não em primeiro lugar.
-Qual a colocação de “O Bom, o Mau e o Feio”? - quis saber.
-Nono lugar.
-A música é ótima. - interveio a Gina.
-Começa com o tema do uivo do coiote. Essa composição do Ennio Morricone tem de estar entre as 1001. - afirmei.
-Carlão, o computador está à sua disposição. - anunciou o Daniel.

(*) Certas escolhas são gozadíssimas. É como o concurso de imitar de Chaplin em que o próprio tirou 3º lugar. Western é uma criação americana, você pode fazer um bang-bang italiano, ou espanhol, mas não é western. Não adianta quererem fazer do Sergio Leone um diretor clássico, que, por este Distribuidor, não passa. E o Ennio Moricone é músico de um instrumento só. Também não emplaca. Que vá assoviar na Calábria.
Rastros de Ódio é um saco para se rever, mas é um western de mão cheia. Big Country e O Facínora são Cult movies, o Distribuidor, humildemente, como é sua característica mater, recomenda assistir.




2228 - vidas e flautas

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4028                                        Data: 14 de setembro de 2012
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O SABADOIDO PÓS-INDEPENDÊNCIA
PARTE III
-Xi, Luca, esqueci de colocar gelo no seu uísque. - desculpou-se o Claudio movimentando-se para retornar a cozinha.
-Deixe como está, Claudiomiro.
Eu, juntamente com o Vagner, bebia o copo d' água que a Gina trouxe.
-Você recebeu o e-mail que lhe enviei sobre o Freixo? - dirigi-me ao Luca.
Depois de ele confirmar, eu disse que desistira de votar nele porque se mostrou favorável à liberação dos bailes funks, a trilha sonora do inferno.
-Pois eu falei justamente nisso quando você estava lá dentro. - afirmou o Luca.
Claudio, nesse instante, interveio:
-Vocês não leram o artigo do Rodrigo Constantino no Globo de terça-feira?... Ele meteu o pau na esquerda caviar: Chico Buarque, Walter Moreira Sales e irmãos e outros.
Nos outros, encontrava-se o Leonel Brizola, mas meu irmão o omitiu, seguindo adiante:
-O eleitor carioca tem essa mania de acolher esquerdistas que aparecem como salvadores da pátria, como a Heloísa Helena, esse Freixo...
-A Marina Silva.
Não apresentei a minha discordância do Luca sobre a Marina Silva porque não cabia uma discussão política.
-O Dieckmann vai votar no Paes. - disse, já que encaminhara o e-mail do nosso amigo sobre a eleição de outubro deste ano aos integrantes do Sabadoido.
-O Dieckmann vai votar no Freixo. - corrigiu o Luca para, em seguida, dizer que votaria também nele.
 -Eu anularei o voto. - rezingou meu irmão.
-O Paes vai ganhar de qualquer maneira. - mostrou-se a Gina realista.
-Vocês viram o discurso do Bill Clinton na convenção do Partido Democrata? – indaguei.
-Vimos.
-Não há necessidade nem de se saber inglês para constatar o brilhantismo da sua fala; as ênfases, as pausas, o domínio pleno que ele teve sobre o público, que foi ao delírio.
-Carlinhos, ele defendeu o emprego da mulher. – aludiu o Luca ao fato de Hillary Clinton ser a secretária de Estado.
Meu irmão interveio:
-Arnaldo Jabor tem três grandes paixões: Nélson Rodrigues, Fernando Henrique Cardoso e Barack Obama.
-Carlinhos, você escreveu uma coisa de Marx que eu até concordo...
A Gina rumou para dentro de casa e eu me preparei para aguardar em que questão, tratada em três números do Biscoito Molhado, o Luca se referia. Ele se pôs, porém, a falar do programa do Jô Soares.
-Ontem, foi ao Jô Soares uma moça muito bonita. Ela se apresentou bastante nervosa e o Jô perguntou se queria uma bebidinha pra se acalmar. Ela pediu Tequila e ele acompanhou. Ela bebeu num trago só.
-Bebeu à cowboy.- interferi na narrativa do Luca, que prosseguiu:.
-Ela pediu outra Tequila e o Jô acompanhou. De novo, a moça bebeu num só trago.
-À cowboy.- ratifiquei.
-Na terceira pedida dela, o Jô Soares não acompanhou. Em seguida, a entrevistada  imitou várias cantoras americanas. Uma beleza!
-Que cantoras americanas? - perguntaram em uníssono o Claudio e o Vagner.
-Cantoras americanas. - foi a resposta vaga.
-Ora, Luca, como eu posso elogiar se não conheço as cantoras imitadas? - cobrou o Claudio.
-Assim não vale, Luca. - ironizou o Vagner.
-Ella Fitzgerald?... Billy Holiday? ? Sara Vaughn???- tentavam adivinhar.
-E o Karl Marx? - pensei, mas nada disse.
Luca passou, então, para outro entrevistado do programa do Jô Soares.
-Sabia que o Carlos Vereza toca flauta e aprendeu com o Altamiro Carrilho?  Ele tocou, na entrevista, com o Derico.
-Derico é um bom flautista. - assinalei.
-Eu vi. – disse o Daniel que passava pela sessão do Sabadoido nesse momento.
-Você viu? – entusiasmou-se o Luca.
-A televisão estava ligada na Casa da Moeda e, antes de eu dar uma dormidinha, assisti alguma coisa do Jô. – disse ele que, no telefone, se despede sempre de mim com “Um beijo do gordo”.
E finalmente Luca entrou no tema Karl Marx.
-Carlos Vereza disse que Karl Marx era uma pessoa bondosa, que conheceu Allan Kardec.
-Bem, Luca, Karl Marx viveu um período da vida em Paris e foi contemporâneo do criador da doutrina  espírita.- manifestei-me.
-O Carlos Vereza disse que eles se conheceram, que Marx não era esse ateu que propagaram por aí.
Acionado o Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado, soubemos que o Kardecista Clóvis Nunes especula sobre a amizade que teria juntado Karl Marx a Allan Kardec e sobre a ligação do criador do comunismo com o pensamento espírita. Essa ligação, segundo Clóvis Nunes, é provada em trechos como o que se segue:
-“O Senhor M..., que assistia a essa reunião, era um jovem comprometido nos assuntos políticos, e que era obrigado a não se colocar muito em evidência. Crendo num transtorno próximo, se preparava para nele tomar parte, e combinava os seus planos de reforma; era, de resto, um homem agradável e inofensivo.” (Kardec Allan, Obras Póstumas: Primeira Revelação da Minha Missão).
De repente, passou-se a falar de tênis.
-Quais são mesmo os torneios do Grande Slam? – hesitou o Luca.
-O torneio da Austrália, Rolland Garros, Wimbledon e o Aberto dos Estados Unidos. - esclareceu meu irmão.
-Então, SLAM não significa cada um desses torneios?...
Como julgou que significava uma sigla ou um acrônimo, dissemos que não, era uma palavra da língua inglesa.
-O que significa slam? – insistiu.
Daniel foi encarregado de catar o significado da palavra no google, mas, segundos após, ouvimos  soar uma música dos Beatles no teclado.
-Eu vou ver. – disse a Gina.
Minutos depois, voltava ela para esclarecer que o termo slam chegou ao tênis vindo do jogo de bridge. Como ninguém ali sabia jogar bridge, continuamos na mesma ignorância.
E falou-se, então, de música.
-Não conseguiu tocar o CD, Claudiomiro?...
-Não. – respondeu meu irmão retirando-o do seu aparelho de som.
Como aquele CD, trazido pelo nosso amigo, era novidade para mim, imaginei que trataram dele enquanto eu estava no computador assistindo ao vídeo em que o Sérgio Strongs falava do Levy e do Roniquito, enquanto aparecia o Puma do Vicente, exibido num travelling de câmera.
-No rádio do meu carro, eu toco para o Carlinhos e o Vagner ouvirem. – prometeu.
Vagner falou “Trenzinho Caipira”, e o meu irmão corrigiu:
-“Trenzinho do Caipira.”
-Sei que é uma das partes das Bachianas nº 2 do Villa Lobos. – intervim.
Na hora de ir embora, Luca parou o carro na Rua Chaves Pinheiro, em frente à casa do Vagner e cumpriu o prometido; colocou o CD para tocar. Soaram, então, as notas de Summertime, ária da ópera Porgy and Bess de Gershwin.
-Ninguém tem coragem de modificar nessa introdução.
As palavras do Luca foram abafadas pelo magnífico solo de piston do Louis Armstrong. Em seguida, entrou a voz legendária de Ella Fitzgerald para, logo depois, Louis Armstrong também fazer uma participação vocal.
Luca apertou um botão, antes que a música se encerrasse, para que fosse ouvido “Urubu Malando”, de Pixinguinha, tocado por instrumentistas de primeira qualidade.
-Olha, como eles brincam com o ritmo, Carlinhos e Vagner. – empolgou-se.
Não era para menos, dois dos maiores músicos do século XX, Pixinguinha e Louis Armstrong tinham mesmo de empolgar a todos que tem gosto apurado.






quinta-feira, 20 de setembro de 2012

2227 - organismos vazios

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4027                                        Data: 12 de setembro de 2012
 SABADOIDO PÓS-INDEPENDÊNCIA
PARTE II
Depois de explorar bastante os conhecimentos do meu sobrinho sobre informática, passei a pôr em dia a minha correspondência eletrônica.
Recebi da Candinha, irmã do Reinaldo da Petrobras, minha colega da turma da Dona Arlete e da Dona Eunice, nos terceiro e quarto anos do curso  primário, um texto sobre uma pergunta que acabrunhava os pais: “Como eu nasci?”  Nesse caso, a curiosidade do menino é satisfeita na  linguagem que eles entendem, nesta primeira década  do século XXI, que vale a pena ser reproduzida:
-“Entramos escondidos numa lanhouse e o papai introduziu o seu Pendrive na entrada USB da mamãe. Quando começou o download dos arquivos, nós nos demos conta que tínhamos esquecido o software de segurança e que não tínhamos Firewall. Já era tarde demais para cancelar o download e impossível apagar os arquivos. Depois de nove meses, apareceu o vírus.”
Catei o último lançamento cinematográfico do Dieckmann, mas, infelizmente, ele não tem sido tão prolífero quanto o Woody Allen; nada apareceu. Revi, então, o filmete em que aparece o Puma do Vicente, amigo do cineasta de Santa Teresa e saí para fora. (*)
Na sessão do Sabadoido, exercitava-se a memória com os nomes das emissoras de rádio de outrora.
-Carlinhos, você quer que eu fale o nome ou a estação radiofônica?- propôs-me o Luca de supetão.
-O nome.
-Carlos Palut.
-Repórter da Rádio Continental. - respondi sem pestanejar.
-Nunca ouvi falar. – bradou a Gina.
-Carlinhos sabe que ele fazia reportagens sangrentas no fim dos anos 50 e início dos anos 50. - retrucou o Luca.
-Eu o conheci mesmo como repórter esportivo.
Foi instigante a lembrança do nome do radio jornalista pelo Luca, pois o Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado foi acionado e nos trouxe dados que devemos conhecer.  Dizem os mesmos que houve alterações acentuadas nos jornais falados quando a Rádio Continental do Rio de Janeiro se tornou a primeira emissora brasileira especializada em reportagens externas, cujo criador foi Carlos Palut.  Operadores e radio repórteres saíam juntos para as tarefas e a primeira providência era a instalação de microfones nos locais dos eventos. Carlos Palut levantava os assuntos, realizava as gravações que, posteriormente, eram repercutidos no “Jornal da Reportagem”, desde 1958.
Feito esse parêntese bem resumido, prossigamos com a nossa narrativa.
-Existiu  também a TV Continental.- acrescentei.
-Isso eu sei; era o canal 9. - falou a Gina (como diria o taxista da Metrô táxi)  fora da modulação.
Eu pretendia citar o empresário e político que chefiava aquela organização, mas o nome Rubens Berardo me fugiu; citei, então, o Clóvis Filho, como ótimo locutor esportivo que morreu prematuramente.
-Clóvis Filho... - puxou meu irmão pela memória.
-O Seu Amaury – referiu-se o Luca ao meu pai – é que falava nos jornais que saíam sangue quando espremidos.
-Do meu jornal sai farelo. - pensei, emudecido.
-O Dia, A Notícia. - citou a Gina.
-Houve um pior. - interveio o Luca.
-A Hora do Povo” .
A Hora do Povo, eu sabia que era capitaneado por um repórter policial atraído pelo sangue das vítimas, que se tornou personagem, sem pseudônimo do Nélson Rodrigues, na peça “O Beijo no Asfalto”,  mas o nome Amado Ribeiro  não me veio na hora certa, por isso, não me manifestei.
-Havia fotógrafos que pagavam os funcionários do IML para tirar fotos dos defuntos. - garantiu o Claudio.
Luca e Vagner concordaram imediatamente.
-Existe gente degenerada que gosta de ver desgraça no jornal, por isso, eles fazem isso. - disse  a Gina.
-Eu vejo o telejornalismo da TV Bandeirante, porque não mascara a realidade. – afirmou meu irmão com a pronta aquiescência do Vagner.
-A TV Globo, nas suas reportagens, procura não chocar o público com imagens agressivas. – ponderou o Luca.
-Em seguida, a Globo mostra putaria nas novelas. - aparteei.
-E Big Brother Brasil. – acrescentou o Claudio
-Não gosto do Anselmo Goes quando estampa fotografia de mulheres e escreve “Leva eu... Gosta de eu...” e outras baboseiras.
-É um velho babão. - diagnosticou o Gina.
Como disse certa vez o Dieckmann, Anselmo Goes é uma azêmola.- pensei sem me manifestar.
Luca retrocedeu no tempo, citando os cronistas que sucederam o Ibrahim Sued, no Globo, e se deteve no Ricardo Boechat.
-O problema do Ricardo Boechat  é que ele plantava notícias. Certa vez, ele noticiou que o Unibanco seria vendido, com isso, retransmiti o que lera aos meus colegas. Não é que uma dona lá do banco pretendeu me demitir por espalhar boatos?... Tive vontade de esfregar o jornal na cara dela. Quem espalhou boato foi o Ricardo Boechat, não eu.
-Dizem que houve outros casos.
-Sim, Claudiomiro. O Boechat plantava notícias na coluna dele, pelo que diziam, para mexer nos preços das ações e lucrar. Foi, por isso, demitido do Globo. Outro que recorria ao mesmo expediente era o Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa.
Lembrei-me que, quando o veterano jornalista pretendeu um cargo político, seus adversários citaram suas falcatruas e ele devolveu prontamente: “Todos aqui têm um cadáver escondido no seu armário.” Mas não era caso para ser trazido à baila e por isso, o Ricardo Boechat continuou na berlinda.
-Eu sintonizo a Rádio  Bandeirante às 7 horas da manhã e ouço a voz do Boechat que dá início ao programa dele de telejornalismo. Zapeando os canais da TV a cabo, às 19 horas, deparo-me muitas vezes com o mesmo Boechat informando e comentando as notícias do dia.
-Ele fica além das 9 horas da noite na TV Bandeirantes. - interferiu o Claudio.
 -Admiro a capacidade de trabalho que ele possui. - enfatizei.
-Ele deve embolsar um bom dinheiro para trabalhar tanto. - deduziu minha cunhada.
-Ele ficou uma semana fora de combate, um ano e meio atrás mais ou menos. Eu o ouvi no dia em que ele retornou, às 7 da matina, na Band News. Ele contou que, dentro do carro, parado, logicamente, começou a suar frio e apagou. Levado para o hospital, passou por uma bateria de exames, mas nada foi encontrado no seu organismo. (**)
E concluí:
-Tenho certeza que o organismo dele reagiu a tanto trabalho. 
-Mas ele não tomou jeito. - disse o Claudio.
Luca, enquanto isso, se inteirava dos acontecimentos familiares pelo celular.
-Vou pegar as bebidas. - ergueu-se meu irmão da cadeira.
-Claudiomiro, antes, você pode trazer um copo d’ água para mim? – solicitou o Vagner.
-Eu trago. – prontificou-se a Gina.

(*) A sorte do redator do seu O BISCOITO MOLHADO é que tem muito Puma e há Vicentes em número suficiente para serem, ao mesmo tempo, proprietários e amigos do mencionado Dieckmann. Como já contado, o Puma que aparece no filme https://vimeo.com/49512511 era um Porsche - o que demonstra o baixíssimo conhecimento automobilístico do redator – porém outro Vicente amigo do Dieckmann comprou, certa vez, um Puma Conversível.
Fez uma reforma absolutamente completa, instalando apenas componentes zero quilômetro e foi conversar com o Dieckmann. Este o ouviu pacientemente, como é seu hábito e concluiu: - Vicente, Puma é uma merda!
Terminada a reforma, o Vicente dirigiu o carro, concordou com o Dieckmann e colocou-o à venda. Por felicidade, vendeu-o por uma fortuna para um australiano, recuperando-se do investimento com folga.

(**) O Redator e o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO dificilmente concordam em alguma coisa. Em análise sobre veículos concorrentes, como o jornal O GLOBO e a TV Bandeirantes, eles, entretanto, concordam, baixando o pau, seja em quem for, doa em quem doer. Mas daí a declarar que nada foi encontrado no organismo do Boechat, quer parecer um exagero anatômico da parte do Redator e este Distribuidor vai tirando o corpo fora, desde já.

2226 - o facebook do biscoito


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4026                                       Data: 10 de setembro de 2012
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O SABADOIDO PÓS-INDEPENDÊNCIA

-Daqui a pouco o Daniel chega do trabalho. - disse o Claudio com a maior tranquilidade do mundo.
-Como, são oito e meia da manhã?... Ontem, foi o feriado de 7 de setembro?...
-Carlinhos, Daniel está colocando dinheiro no bolso...
-Ele foi chamado para trabalhar pela madrugada adentro?- perguntei para realçar a minha surpresa.
-Daniel quer ficar rico.
-Deixa-me ver onde ele está? - aparteou a Gina com o celular já no ouvido.
-E, então, querido, já está perto?...
Alguns segundos depois, Gina desligava o celular e nos informava que o táxi já passara por Guadalupe.
Ele virá com sono e, certamente, ocupará o quarto e eu ficarei sem o seu computador justamente no momento em que necessito tanto de uma internet rápida por ter ingressado no facebook. - imaginei.
Gina puxou conversa.
-Eu não entendo esse pessoal que pretende aproveitar o feriadão pegando a estrada...
-Eu soube de engarrafamentos de 26 horas da cidade de São Paulo ao litoral. – interferi.
-Lá, então, é uma coisa horrorosa... Eles ficam horas e horas nas estradas, chegam na praia, molham a bunda e já está na hora da volta, e passam por mais horas e horas de engarrafamento. – ironizou a minha cunhada.
-Carlinhos, você leu o artigo do Rodrigo Constantino na  Globo de terça-feira sobre a “esquerda caviar”?
-Não li, mas imagino quais são os integrantes da esquerda caviar.
-Os filhos do Valter Moreira Sales, Chico Buarque...
-Ele citou o Roberto Campos que denomina esses esquerdistas de filhos de um adultério do Marx com a Coca-Cola.
-Mas esse artigo é a propósito de que? – quis saber.
-Da exaltação que a esquerda caviar faz do Freixo na eleição para prefeito.
-Cláudio, eu, que sou, no máximo, da esquerda salmão, pensei em votar no Freixo com um objetivo apenas: evitar a reeleição do Eduardo Paes por uma maioria esmagadora,  mas quando soube que o candidato do PSOL é favorável  aos bailes funks, mudei rapidamente de ideia.
-Você não sofreu com a macumba do vizinho aqui do lado?... – interveio a Gina.
-Voltando ao Freixo, o Dieckmann me escreveu que votará nele porque o Eduardo Paes com 70% da votação, sem precisar se reeleger, ficará solto sem nada fazer.
-Não, ele quer ser governador. – discordou meu irmão.
-Falam no Pezão como próximo governador do Rio de Janeiro, mas ele é apadrinhado pelo Sérgio Cabral, que se sujou com o caso Delta do Fernando Cavendish.
-Se ele enfiar o Pezão na porta, chega a governador. - não perdeu a Gina a piada.
Lembrei-me do livro que dei há uns dez dias à minha sobrinha de doze anos e mudei de assunto.
-A Ana Clara, ao me agradecer o presente, “Branca de Neve e o Caçador”, garantiu-me que o leria em uma semana, mas não conseguiu. A mãe dela examinou o livro e reconheceu que a Ana Clara não encontrará a mesma facilidade de outras leituras.
-Eu soube que ela viu o filme. - disse o Claudio.
-Eu, com treze anos de idade, li “O Guarany”...  Li muitas obras do José de Alencar, que usava uma linguagem rebuscada, não tanto como o Camilo Castelo Branco.  Eu não entendia o significado das palavras, mas seguia adiante.
-Não leu os grandes mestres da literatura universal com quatorze anos de idade? – ironizou meu irmão.
-O leitor tem de ter uma cultura apreciável para entender um grande clássico, o que se obtém, na melhor das idades, com mais de vinte anos. – manifestei-me.
-Eu, quando me entusiasmo com um livro, e leio muito, sinto uma terrível dor de cabeça. – disse a Gina.
-Os romances que eu devorava, no passado, em uma semana, hoje me exigem um mês.  O livro passou a ser um ansiolítico para mim, leio e o sono logo me domina.
-Você está com o mesmo mal do Lula?  - estocou-me o Claudio.
-A diferença é que a minha atração pelos livros nunca esmoreceu; a idade é que diminuiu a minha capacidade de leitura.  Às vezes, eu escrevo para me manter acordado. Quanto à Ana Clara, é louvável que ela leia nesta época em que os petizes não trocam a tela do computador por nada.
Mal terminei de falar, o Daniel adentrou cozinha adentro com a sua alegria costumeira.
-Não vou caminhar hoje. - afirmou, enquanto depositava, na mesa, uma  pasta  que lhe chegou à cintura por causa da longa alça que pendia no ombro.
Se ele ainda cogitou em caminhar é sinal de que não vai dormir e eu tenho chance de usar o cybercafé. – deduzi esperançoso.
-Havia um bom lugar para se dormir lá?
-Carlão, eu dormi num sofá.
-Então, você dormiu como um vigia noturno. - pilheriei.
-Houve um revezamento ente nós; eu dormi das duas e vinte da manhã às quatro e vinte. Fui embalado pela serenata dos gatos de Santa Cruz.
-Melhores do que os gatos do Cachambi. - aditou a Gina.
-E, pelo que noto, deu para descansar bem. - concluí.
-Vou tomar banho.  – disse sem perda de tempo.
Sem cerimônia, sua mãe abriu a pasta e retirou os vouchers do taxista.
-A Casa da Moeda o reembolsa?
-Sim, Carlinhos. - respondeu-me a Gina.
-Eu já disse, Carlinhos, o Daniel só pensa em encher o bolso de dinheiro. Vai trabalhar na madrugada de hoje para amanhã de novo. - informou meu irmão.
-Ele trabalha como programador?
Depois de a Gina me responder afirmativamente, eu comentei que nem todas as pessoas no Brasil trabalham na matéria em que se formaram, que a praxe é o desvio de função.
-Desvio de função com o Daniel houve nos correios. - esbravejou a Gina.
Depois de alguns minutos, o Daniel reapareceu de banho tomado.
-Daniel, entrei no Facebook.
-Não vai me dizer, Carlão, que você comprou as ações do Facebook.
-Meu grau de loucura ainda não chegou ao ponto de rasgar dinheiro. Acontece que eu aceitei um convite da Luciana, sua prima, aceitei e, quando vi, umas trezentas pessoas de que eu desconhecia a existência queriam ser minhas amigas.
-Agora é tarde, Carlão.
-Pois é, Daniel, preciso da sua ajuda, pois nem o meu retrato eu coloquei no meu perfil.
-E que retrato você quer que eu coloque?
-Qualquer um, menos de um velho, pois o Dieckmann (*) já fez isso.
E comentei:
-Mal sabe ele que já foi confundido pelo Luca com o Seu Waldemar.
-E quem é o Seu Waldemar, Carlão?
-É o avô do Caio e do José.

(*) Imagine só: o redator do seu O BISCOITO MOLHADO é preconceituoso o logo contra a terceira idade. O retrato que o Dieckmann colocou no facebook e em todos os locais em que uma foto é pedida é do Q, o chefe do Departamento de Pesquisas do MI 6. Pesquisador inveterado, o Dieckmann o elegeu como seu patrono e é com alegria que este Distribuidor enaltece o fato.